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Pesquisa da UFPB é pioneira em levantamento de dados sobre a diversidade de parasitos de peixes no semiárido paraibano
Pesquisadoras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realizaram o primeiro levantamento sobre a comunidade de parasitos presentes em peixes na região do semiárido paraibano. A pesquisa teve como foco identificar a diversidade de parasitos de peixes em oito reservatórios, representando as bacias dos rios Paraíba e Mamanguape.
A pesquisa foi conduzida pela aluna de doutorado Vitória Maria Moreira de Lima e pela docente Ana Carolina Figueiredo Lacerda, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (PPGCB), do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da UFPB (CCEN). Elas analisaram 1.170 peixes de 21 espécies diferentes e como resultados constataram que 42% dos animais coletados estavam parasitados.
De acordo com as pesquisadoras, foram identificadas 52 variedades de parasitos, mas dentre estas apenas alguns nematódeos já foram registrados como espécies com potencial de transmitir doenças de animais para humanos, como, por exemplo, espécies da família Anisakidae, incluindo o gênero Contracaecum, que podem estar relacionadas com casos de doenças do trato digestivo humano.
A doutoranda aponta o pioneirismo e a importância da pesquisa em coletar e identificar os organismos em ecossistemas aquáticos do semiárido, uma vez que há inúmeras regiões do país as quais ainda não foram estudadas com esse tipo de levantamento de biodiversidade. Segundo Vitória Lima, é comum que hospedeiros nativos de peixe sequer tenham sido estudados para que se conheçam seus parasitos.
“Essa é a realidade de muitos ecossistemas aquáticos brasileiros, seja pela dificuldade de acesso a esses organismos, ou pelo baixo número de especialistas na área. Através deste tipo de trabalho podemos eliminar o viés da pesquisa que faz com que muitos locais sejam negligenciados com relação a essas informações, como é o caso da região do semiárido brasileiro, onde está inserida boa parte da Bacia do Rio Paraíba”, disse.
Por meio do estudo foram elucidadas as interações parasito-hospedeiro que ocorrem no semiárido paraibano em espécies nativas, bem como em espécies invasoras, que apresentaram novos parasitos. As análises foram realizadas no Laboratório de Hidrologia, Microbiologia e Parasitologia (LAHMP/UFPB).
A pesquisa indicou alta incidência do nematódeo Procamallanus na espécie de peixe Piau (79%), do parasita de Austrodiplostomum compactum no peixe Pescada (62%), de Miracetyma piraya em peixes do tipo Curimatã (44%), e de incidência de Anisakidae em uma espécie de piaba não-nativa (33%), possivelmente introduzida na Paraíba através da transposição do Rio São Francisco.
“Destes registros, o último se insere em duas problemáticas importantes: a primeira através do potencial zoonótico dos parasitos da família Anisakidae; e, por último, a discussão sobre espécies introduzidas, levantando a urgente necessidade da investigação e monitoramento dessas ocorrências no cenário de mudanças ambientais causadas pelos seres humanos”, afirmou Vitória Lima.
Apesar do fato de peixes dos reservatórios paraibanos serem hospedeiros de parasitos parecer algo preocupante, a pesquisadora esclarece que os parasitos são naturalmente encontrados em ambientes saudáveis, sendo organismos importantes para a biodiversidade. Até o momento, os valores de índices parasitológicos apresentados não fogem do comum em relação à parasitologia de peixes, no entanto, a avaliação de condições ambientais está entre os próximos passos da pesquisa.
Os resultados preliminares da pesquisa foram divulgados em artigo publicado na revista international Jornal of Helminthology. O artigo representa o primeiro capítulo da pesquisa de doutorado de Vitória Lima, e as pesquisadoras ainda pretendem levantar os dados da parasitologia de peixes para a região, além de entender quais são as características do ambiente que influenciam esse parasitos, incluindo estação do ano, qualidade da água, características dos peixes e a influência direta da transposição do Rio São Francisco nas interações ecológicas entre os peixes e seus parasitos e presas nos ambientes aquáticos do semiárido brasileiro.
A pesquisa é financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ-PB), e "Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração - Rio Paraíba Integrado (PELD-Rio Paraíba Integrado). O estudo conta ainda com a colaboração de pesquisadores de instituições nacionais e internacionais, como os coautores da Universidade Regional do Cariri (URCA), do Instituto Peixes da Caatinga, da Universidad de la Republica no Uruguai, e da Universidade de Cardiff, no Reino Unido.
Texto: Elidiane Poquiviqui